sábado, 1 de outubro de 2011

Entrevista Martinez para Guitar Player, versão Integral sem cortes

Entrevista concedida à Senhora Vera Kikuti para revista Guitar Player Brasil



1) Você é um guitarrista eclético, pois recebeu educação formal na universidade, e seus projetos paralelos incluíram o Panic, que é thrash metal, o Freakeys que é um fusion, e o Hangar que é um heavy metal mais tradicional. Que guitarristas ou músicos você considera como suas maiores influencias no inicio de sua carreira? Atualmente o que você tem ouvido? Tem algum guitarrista que você realmente gosta hoje?

Talvez esse ecletismo seja uma falácia. Tudo na minha musicalidade, ou falta dela, no meu entender é devido ao meu radicalismo. Para receber uma formação musical nesse país é preciso balls. Pelo menos em 1985 era. Eu estava saindo do segundo grau cursado em um renomado colégio de padres jesuítas, que com certeza preferiam manter os pais dos alunos fiéis a mensalidade a ensinar mais uma inutilidade cara como música. Sabemos que em nossa sociedade Brasil-colonial é de suma importância a historia de nossas guerras e demais atrocidades marcantes. No entanto uma pauta vai ter a mesma “importância” na sua vida pós segundo grau que a fórmula de báscara se você optar pela medicina não é mesmo? Para que perder tempo e dinheiro se isso “não cai” no vestibular? E aquele ensino visava o vestibular. Colégio bom é o que te forma, o que te coloca no formato adequado. Mais um tijolo na parede social.

 Mas não posso me queixar, pois devo ao ensino “libertário” do Anchieta minha entrada na Universidade Federal. Pelo menos na parte do vestibular “normal”, pois na prova especifica fiz alguns milagres, como passar em uma prova de ditado musical ao piano sem nunca ter feito um. Provavelmente as aulas de solfejo “rezado” (sem afinação, pasmem) que tive no liceu (conservatório, e por pouco tempo faculdade de musica Palestrina) antes de tentar a UFRGS me salvaram.  

Pois realmente, ensino musical sério no Brasil é na UFRGS, uma instituição que não te quer lá; a prova é a mais difícil possível, as vagas poucas não eram preenchidas integramente por falta de candidatos qualificados ao nível mínimo.  Não é lá que se leva a realidade do Brasil em consideração em termos de back ground, pois não há mensalidades a pagar, a universidade não dá “lucro” ao seu administrador do momento, pois tem alunos demais professores de menos. O lucro deveria ser o de uma sociedade melhor. Essa sociedade que paga pela universidade gratuita.

Os professores são excelentes. A questão é que não se vai para uma instituição federal gratuita para aprender música. O perfil médio do aluno de violão é de quem já tem formação equivalente ao segundo grau em musica adquirida por conta própria. Ou é gênio mesmo. No entanto mesmo os gênios tem direito e a obrigação do segundo grau.  Corrijam-me se as coisas mudaram. Além disso a carga de créditos é enorme, os horários sem sentido, a cobrança de primeiro mundo. Entra na UFRGS quem teve alguma formação em casa e ou fora desde pequeno. Sou um dos que faz parte da exceção. Em casa tive o violão de minha mãe, minha primeira e maior influencia. Os discos dos Beatles, Os Almôndegas, Chico Buarque, Elis e Elvis que pude ouvir por engano também devo a meus pais. Com eles aprendi que para viver e ser feliz é preciso fazer algo bem, e que pra fazer algo bem é preciso fazer todo dia, e que pra fazer todo dia é preciso GOSTAR.

A Panic foi a minha primeira banda, primeiro LP gravado em 1986 e meus primeiros dez anos de metal. Não poderia chamar isso de projeto. Essa visão corporativa do metal existia naquela época tanto quanto estúdios de ensaio que não fossem a casa do baterista. Era basicamente uma completa loucura. Você fazia parte dela ou não, por buscar uma sonoridade que representasse a necessidade de mudar as coisas, de questionar valores. Tipo um jovem sem Orkut ou guitar hero, entende? E nisso entravam os valores musicais também: no culto ao muito antigo e ao muito novo, o rock que pai não gosta, o não estabelecido. Daquela época pelo menos, pois muitas bandas que gravei em K7 do LP importado agora são mega bandas.

Para ter acesso ao primeiro disco do Metallica, Slayer, aquele monte de Venoms , Death, Hellhammer, Celtic Frost, Bathory, Mercyful Fate, Dark Angel, Megadeth, Satan, Trouble, Jag Panzer, Loudness, Diamond Head, DRI, Anthrax, SOD, Discharge e outras coisas mais pavorosas era preciso se agregar aos demais bichos que também queriam ir além do pentagrama Sabbath, Iron Maiden, Led Zeppelin, Purple, Judas. Nisso tudo, e até hoje o Black Sabbath é a maior influência, reside minha base musical. A idéia de que um guitarrista é parte de uma banda. Já um violonista, um solitário muitas vezes. Por isso minha primeira escolha depois de gravar meu primeiro LP de “banda extrema descoberta por gravadora de São Paulo” foi o curso de composição. Eu não queria ficar só. Eu queria que as pessoas ouvissem a música da minha banda, que ela tivesse aquela qualidade que a grande musica tem. E fui em busca dos porquês da musica, essa linguagem que não se explicava pra mim de outra forma que em emoção pura e simples.

 Já me disseram começar pela composição é o caminho errado, primeiro tocar, depois compor. Mas instrumento para mim era guitarra. E como disse o Maestro Fredi Gerling quando propus cursar a cadeira de musica de câmara com a nossa orquestra de guitarras: “Não existe guitarra na UFRGS...” Mas existiu, e tiramos A.

Outra influência foi a carreira solo de Ozzy Osbourne. Eu via as fotos do Randy Rhoads tocando violão no camarim e pensava “é isso”, o cara tem que “estudar clássico” para servir ao metal e estar em uma grande banda ou ao lado de grandes músicos com grandes responsabilidades... E com o fim da minha primeira banda e já com 5 anos de créditos adquiridos na bagagem curricular da universidade retornei à cruzada solitária do violão para me formar bacharel em 2004, com o Hangar na vida desde 1999 me “atrapalhando”. Ainda bem. Honrei meu compromisso espiritual com o exemplo deste grande ídolo que muito me surpreendeu estando já morto quando o descobri. E estava ao mesmo tempo na gig da minha vida: toquei meu recital de graduação após o segundo show do Hangar em Caruaru virado de esperar no aeroporto de Recife 12 horas.

A grande influência será sempre o primeiro mestre. Tive dois: O guitarrista Uruguayo Enrique Azambuja e o Violonista que teve a ingrata tarefa de ensinar a ler Eladio Jose de Souza. Outros grandes choques na minha “formação” foram a primeira audição de Eruption (tive que estacionar o carro pra não bater), o seminário internacional de violão do Palestrina em 1988, a primeira vez que ouvi o concerto de Brandemburgo, shows do Van Halen, Paco de Lucia, Casiopea, Cheiro de Vida, Raiz de Pedra, Peter Frampton. Grandes lembranças como Baden Powell, Toquinho e Vinicius ao vivo, Daniel Wolff tocando a fantasia X (dez) de Mudarra na TV educativa. Esses momentos de verdadeira emoção são a minha grande influência, a influência de cada pessoa que me transmitiu em um breve momento a idéia de que se pode amar, crescer, mudar e talvez pagar algumas contas através da musica.

E nos últimos tempos a maior influência que posso citar foi a do senhor Nando Mello que com apenas um telefonema mudaria minha vida em novembro de 1999 com a pergunta: “ você tem algum aluno ou conhece algum guitarrista que possa talvez quem sabe... tocar na nossa banda?”

Como foi o processo de composição de Infallible? É um processo feito pela banda, ou cada um traz idéias, riffs e vocês trabalham a partir daí? Quem é Theo Vieira, que aparece como co-autor em algumas composições do disco?

Theo Vieira é um excelente produtor musical, técnico de gravação, compositor, arranjador, guitarrista, professor de inglês e filho do mundialmente conhecido pianista “especializado” em Liszt Amaral Vieira.  E um grande cara, possuidor de um extremo bom gosto. Theo foi responsável pela gravação do áudio de nosso show duplo eletro-acústico do Centro Cultural Vergueiro. Theo é também colaborador e cointérprete na musica Time To Forget. Colaborou também diretamente em Dreaming of Black Waves e Solitary Mind.

O processo de composição de Infallible foi uma mistura de tudo isso que você citou. Banda reunida e isolada; um prazo para cumprir, riffs e idéias antigas de cada integrante e a vontade de fazer um álbum com a cara de cada um, a cara daquele momento individual e do grupo, de carreira e de vida. Um misto de dor e sofrimento, mas também de privação e sacrifício...  Junte a tudo isso a certeza de que só há duvidas, e que tudo que for feito em música garante nada e você tem Infallible.

 A prova de que em momento algum isso que descrevi antes esteve acima da vontade, dever um para com o outro, a coragem e a teimosia de cumprir com o compromisso de mostrar pra quem achou “que isso não ia dar em nada” daria no mínimo um legado. Legado este que longe de ser um testamento musical é um disco importante que abre as portas para o nosso futuro já no presente. É o trabalho que fez o virtuoso Humberto Sobrinho querer juntar-se a nós, é aquele que  teve  produção  impecável  do  ultra experiente  gigante  Aquiles. Infallible é o trabalho que gerou o apoio da mega empresa Selenium, entre 23 outras, com o tour bus e os amplificadores Maverick, o lançamento na Europa pela MIG records e no Japão pela Spiritual Beast novamente. Crescemos muito com o The Reason of Your Conviction, e crescemos porque acreditamos nas pessoas que estavam sempre na primeira fila em TODOS os shows daquela tour. Por isso, Infallible é para vocês, vocês sabem quem vocês são e o que significam para nós cinco do Hangar: a razão de tudo isso.

Por isso resumo minha polida filosofia musical de Bagé a respeito de Infallible: processo de composição é coisa dos castelos de cristal em alto de montanha das academias e universidades. Isso aqui que nós fizemos, meu companheiro, é coisa de fan que virou músico e compõem brigando um com o outro e aceitando só a idéia que é melhor que a sua. Musico que mede seu valor pela carga que carrega quando a equipe está sozinha, cases de duzentos quilos, quatro toneladas no total. Infallible Foi o processo de contar a nossa vida em metal até aqui, em 12 anos, em cargas sem fim em estradas atoladas.

Esse CD sintetiza a nossa passagem por essa terra escrita em musica.

              
Conte como foi a gravação do disco. Vocês optaram por gravar na unidade móvel do estúdio Daufembach em Tatuí. Como iniciou essa parceria?

Nem tudo foi feito em Tatuí. A bateria foi registrada no estúdio The Magic Place em Florianópolis, cidade onde rodamos o clip de Dreaming of Black Waves com produção da Transitoriamente, uma parceria Catarinense que começou com o pioneirismo da dupla Gilson Naspolini e Adair Daufembach produzindo o workshop de Aquiles em Criciuma. Adair Daufembach é um grande musico, técnico produtor e virtuose da guitarra absoluto. Acho que corre sangue do J.S. Bach nas veias desse cara. Ele domina com seu estúdio a produção musical de qualidade em Criciuma, Santa Catarina. Concluimos que a melhor maneira de trabalhar com ele seria escravizando-o: isolado conosco gravando 24 horas por dia durante 44 dias ininterruptos sem contato com mais nenhum outro trabalho Adair mostraria todo seu potencial. Fizemos a proposta e como ele também é completamente louco adorou a idéia e se mudou conosco para Tatuí, para o mesmo estúdio onde criamos as musicas. Como vocês podem ver estavamos bem servidos de recursos técnicos e humanos. E com o tempo ao nosso lado, para o bem e para o mal.



Que equipamento você usou para as gravações? Teve algum truque ou algo diferente que você fez para agravação desse disco?

Começando pelo que está mais perto das mãos foi uma palheta Planet Waves delrin purple, cordas D’Addario EJ 22 hibridas 10-56 (invenção minha), guitarra Ledur Martinvader Eduardo Martinez signature model, cabos Planet Waves Circuit Brakers, Zoom G2.1u, microfone  audio-technica AE3000 Cardioid Condenser Instrument Microphone, violão Takamine TAN45C cool tube pre amp com cordas D’Addario EJ15 Extra Light 10-47.

O truque foi a parceria Adair Daufembach/Aquiles Priesterna gravação e co produção de Infallible e o apoio da banda o tempo todo, sem eles não seria possível, sou eternamente grato e tenho muito orgulho de fazer parte desse time.

O CD apresenta uma diversificação de estilos, com power metal, baladas, thrash metal... tem até uma música tipo country e uma versão de Mais Uma Vez do 14 bis com a participação do Roupa Nova. Porque vocês decidiram passear por todos esses estilos? Como variam os timbres de sua guitarra para cada estilo?

Não variam! A guitarra é mesma, o timbre é o mesmo em todas as músicas. Quando encontramos o timbre “certo” mantivemos tudo igual para todas as músicas até o fim da gravação. O que varia são as texturas: algumas musicas como Time To Forget tem guitarra limpa e violão junto no arranjo. Solitary Mind tem a guitarra sem distorção em primeiro plano e 39’ do Queen (a country) não tem guitarras salvo as cinco que gravei para compor o “som Brian May”  no solo da intro. Mais uma vez é uma musica do 14 bis que tem a parceria de Flavio Venturini e Renato Russo na composição. Tocamos essa musica no show acústico da tour do TROYC e por ocasião da gravação do show do Centro Cultural convidamos o Serginho Herval do Roupa Nova pra cantar essa musica. Como ele não pode cantar conosco na ocasião ficou para outra oportunidade. E demos um jeito de criar a oportunidade na gravação CD. Como o Roupa Nova só autoriza a si mesmo raras participações  com todos os integrantes  tivemos o privilégio de contar com a massa vocal inteira desses monstros da música em nossa versão de Mais Uma Vez.

Voce utilizou alguma afinação diferente da padrão?

Sim, afino meio tom abaixo do diapasão todas as cordas (sexta corda em Eb) em todo Infallible. A outra guitarra é afinada um tom abaixo desta (sexta corda em Db) com cordas D’Addario 12-59. Para tocar o repertório do Freakeys a afinação é um tom abaixo do diapasão (sexta corda em D). Em 39’ afinei o violão meio tom acima (sexta em F) para não ter que usar capotraste e ter um som de cordas soltas “maior”. Na verdade quando estava aprendendo a musica pela gravação afinei assim e não me arrependi. E foi assim que gravei. Não foi nada fácil.

Como surgiu o seu modelo signature da Ledur, a guitarra Martinvader? Quais são suas especificações e os motivos dessas escolhas?

Essa guitarra surgiu da necessidade de termos no Hangar aqueles instrumentos que são usados para gravar os discos, lá no estúdio, quando não tem ninguém além do técnico olhando e ouvindo. Depois muita gente vai pro palco tocar com outra marca, aquela que na opinião do técnico de gravação não dá pra usar em estúdio pra gravar um disco sério de metal, mas ao vivo se você quiser passa... e se da pra ganhar anuncio em revista e status de endorse, porque não? Depois é só matar o técnico caso ele fale a verdade para os amigos guitarristas. A minha primeira Ledur eu desenvolvi em 2002 e comprei em várias vezes.  Era um modelo custom que usei no TROYC juntamente com um protótipo da Martinvader que ganhei por ocasião de meu primeiro workshop no EM&T de São Paulo, em 2005.

A Martinvader é um instrumento de braço inteiriço, ou seja sem parafusos ou colagens. As cordas e os captadores são fixados direto na madeira, sem molas ou plásticos para atenuar o sustain. A guitarra que gravou o Infallible tem exatamente essa configuração:

  • Braço (inteiriço): Red Wood
  • Corpo: Red Wood (verso) e Purple Heart (frente)
  • Escala: Rose Wood
  • Larguras da Escala: 43mm no capotraste e 57mm no final
  • Medida da oitava: 25" ou 63,5 cm
  • Nº de Trastes/Tipo: 24, Gotoh® Jumbo
  • Marcação da Escala: frontal (H) + dots e superior dots 2,5 mm
  • Captadores: Seymour Duncan® Blackouts AHB-1 (Ativos)
  • Ponte: Tune-o-Matic Gotoh®
  • Tarraxas: Gotoh® blindada
  • Elétrica: Volume + Chave seletora 3 posições
  • Cor das ferragens (knob, tarraxas, ponte): Preta
  • Acabamento: Verniz



               É o instrumento que garantiu a vida do senhor Daufembach, pois o que ele viu e ouviu em estúdio foi o que você verá e ouvirá no show do Hangar. Se o meu técnico não aprovar um item de equipamento eu não uso. A Martinvader está definitivamente aprovada.







Agora vocês tem um ônibus em que podem viajar e levar todo o equipamento. Conte como surgiu esse projeto.

O que você leva de equipamento nesse ônibus? Quais são as vantagens de poder contar com seu próprio backline?

Meu equipamento atual é composto por uma guitarra Jackson RR 24, Jackson Tuck Rhoads, Jackson Soloist, Jackson Dominion, Violão Takamine Hirade, amplificadores Fender Mustang com caixa 4x12", pedaleira Digitech RP 1000 e pedais Fire, monitor Power Click para estudo, Cabos e palhetas Planet Waves e cordas D'addario.

Com o equipamento de palco completo, PA para até 1000 pessoas, mesa, monitores, cabeamento e a banda toda no mesmo veiculo mais a equipe temos feito shows e workshops coletivos em localidades que jamais viram essa estrutura em um show de metal. É uma emoção tipo Flight 666! Podemos estar em sua cidade com essa estrutura semana que vem, ligar o gerador do ônibus e montar o palco em uma praça se “quisermos”. O contratante precisa se preocupar apenas em conseguir o local e fazer a divulgação. Para espaços menores e que não tolerem muitos decibéis temos o set acústico que já apresentamos até em livrarias.



Voces também fizeram uma versão acustica do CD Infallible? Quais as dificuldades na realização de versões acústicas de musicas de metal? Como você consegue o peso das guitarras distorcidas nos riffs e o sustain dos solos?

Não consigo! Logo que nos aventuramos pela versão acústica testamos algumas idéias que funcionaram e outras que nem tanto... Aqui vão as minhas lições de arranjo baseadas nas minhas tentativas e erros:

- Um riff caracteristico de uma musica precisa de mais cordas para soar gordo e pesado num violão de aço, Tonica e quinta nem pensar, prefira acordes tradicionais de violão com muitas cordas soltas sempre que possível mas mantenha a característica ritmica do riff original

- Os solos não terão o sustain de uma guitarra, esqueça, é um violão. O que ele tem é o maior ataque da banda depois da bateria. Utilizo os efeitos da Zoom o tempo todo no violão Takamine valvulado, que tem já tem um som enorme: reverb e chorus nas harmonias e um delay padrão nos solos. Quando a nota for longa preencha a duração com tremolo picking, trinados, ornamentação com mais notas, use a imaginação e recrie sua música ao invés de apenas “tocar guitarra no violão”. Na verdade esse foi o meu início e sugiro que você faça exatamente isso dentro do possível para depois rearranjar onde for necessário ou onde der vontade...

-O que fazer com aqueles solos cheios de ligados e correrias? Se soar bem e der pra tocar no mesmo lugar está feito, senão tente um re arranjo. As frases rápidas em posição alta podem não funcionar tão bem, o violão tem sua própria linguagem, experimente um fraseado diferente mas com a mesma divisão que soe mais violonistico, talvez com menos ligados se for o caso. Tocar o solo uma oitava abaixo do original pode ajudar. As vezes o contrário.

-Bends; cuidado com a terceira corda encapada do violão de aço, ela é bem mais tensa que a terceira lisa da guitarra. Muitas vezes é melhor trocar o Bend por um ligado ou slide.

-No início a visualização da escala também era um problema; essa terceira corda encapada me fazia confundir com a quarta até no tato, pois o violão de aço era um “instrumento novo” para mim, diferente do nylon clássico de braço largo. Essa foi outra questão, como só tinha tocado acordes com cordas soltas típicos de violão no braço do violão nylon até então quando fazia um Dó maior no de aço, que tem o espaçamento entre cordas igual ao de uma guitarra, saía quase um G7.

- A banda precisa ajudar, alguns temas que a guitarra fazia no original, podem na versão acústica passar para o piano, órgão, ou até para as vozes. No nosso caso muitas levadas de dois bumbos também desaparecem e a musica na versão acústica pode ser recriada por todos, com o baixolão complementando essa “baixa” na cozinha. No nosso caso são dois bumbos de 22” que são substituídos por um de 24” com pedal simples.

- O vocal muitas vezes soará bem oitava abaixo caso o arranjo fique menos agressivo. Bom senso é fundamental para evitar gritarias fora de contexto.

-Não mudamos o tom das músicas na versão acústica

- Musicas do Infallible como Solitary Mind, Time To Forget, Mais uma Vez, 39’ (que é acústica), e Based on a True Story são excelentes e fáceis de rearranjar literalmente para a linguagem acústica. Músicas como a Miracle in my Life já não sei se haveria alguma razão sequer para tentar. Talvez uma aposta.

 Nosso show de lançamento na Expo Music em setembro 2009 no stand da Selenium foi um set acústico que abria com The Infallible Emperor (1956). Gravei o violão Takamine da intro sem palheta no CD, mas ao vivo preferi o ataque e o som da palheta, também porque tenho que entrar com o tema da guitarra sem pausa depois da intro, e quando a banda entra mesmo no show acústico é uma pedrada, não posso contar com unha nessa hora pois posso ficar sem um dedo. A presença  e “volume” do violão mesmo amplificado na banda vem da constancia da sua pegada e do timbre da palheta. No nosso set acustico é palheta o tempo todo.

Como andam suas outras bandas e projetos além do Hangar como a Lapide e o Freakeys?

A Lapide lançou o segundo CD Over The Grave em 2008 e a formação atual é a seguinte: Gabriel Siqueira, baixo e vocal, Eduardo Martinez e Gustavo de Leon nas guitarras e O baterista e fundador Hercules Priester. Com praticamente a mesma formação mais o guitarrista Vinicius Veneno montamos um show completo da Panic baseado principalmente nos álbuns Rotten Church (1987 relançado em 2008 pela Marquee records) e Best Before End (1992). Eu, Fabio Laguna e Aquiles Priester temos tocado os temas One Cup, One Lighter, one Jack; Beetle Dance; Golden Bullet e Gallamawhat?! que constam no The Infallible Reason of my Freak Drumming nos workshops individuais e coletivos, tem sido quase uma aventura tranqüila revisitar esse repertório Lagunesco, mas sempre quando tudo parece tranqüilo o lado Freak da musica do Fabio nos ataca em pleno palco forçando o espirito da improvisação e da loucura a encarnar e desligar o metronomo... as vezes, somente as vezes... mas nessas horas assim como no Hangar e na Lapide a gente nem se olha, mas dá graças a deus por estar no mesmo palco.